Quand on n’a que l’ amour

Esta noite, eu e a Isabel, vamos ver o Salvador Sobral interpretar músicas de Jacques Brel. Na impossibilidade de ouvir o próprio, penso que ouvir os poemas interpretados pelo Salvador seja um óptimo compromisso. Tinha pensado em comprar bilhetes mas nem foi preciso. No Natal, recebemos os bilhetes como prenda da parte do meu filho André.

Podemos dar muita coisa a um filho. A maioria dos pais dão-lhes tudo o que podem e muitos ainda lhes dão muito mais do que aquilo que podem. Nunca pensamos em receber nada em troca, damos o que podemos porque a oferta de algo não é um prazer exclusivo daquele que recebe. Muitas vezes dar dá muito mais prazer que receber. Mas, mais do que dar, sentimo-nos felizes quando percebemos que os filhos receberam também algumas das nossas influências e que, mesmo que não gostem da mesma música que nós, compreenderam qual a música, os filmes os museus de que gostamos e porquê.

Quando, naquela noite de dezembro, me deu os bilhetes percebi, mais uma vez, como este rapaz me conhece. Agradeci o gesto, a lembrança, mas, sobretudo, o facto de ter percebido exatamente o que e como me fazer feliz. Sei que hoje o concerto vai ser bom. O Salvador cantará bem, como sempre, acompanhado de músicos bons, recitando palavras magistralmente encadeadas por Brel. Mas, mais que tudo, quando me sentar naquela cadeira, esta noite, pensarei em ti, que estás longe, e no orgulho que sinto em que sejas meu filho.

Poderias nada ter dividido nada connosco, mas sei que, tanto como receber, gostas de dar e sei que herdaste isso (com as tia Clorinda, Maria e Judite e, talvez até, um pouco eu) da avó Josefina que pouco conheceste. Naquele dia, deste-nos muito, porque não precisavas de nos dar nada e mesmo que só tivesses para nos dar a força de amar, ambos sabemos que já teríamos o mundo inteiro nas nossas mãos!

Quand on n’a que l’amour
Pour tracer un chemin
À chaque carrefour

Alors, sans avoir rien
Que la force d’aimer
Nous aurons dans nos mains
Amie, le monde entier

Obrigado,

Um beijo do pai!

Um pensamento sobre “Quand on n’a que l’ amour

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