Um chocalho no carro ou um carro à volta de um chocalho…

Trago, desde há 4 ou 5 anos, um chocalho no meu carro. A semana passada foi a Dulcineia que também recebeu um. Um chocalho, chocalha e faz barulho. Essa é a sua função, por isso um chocalho que chocalhe, está apenas a cumprir a sua função, está a fazer barulho para permitir que se saiba onde está. No entanto, no meu caso, não serve para não perder o carro e ao fim dos primeiros dias em que gosto de os ouvir chocalhar, acabo por colar o badalo ao chocalho para não fazer barulho.

Mas que mania é essa dos chocalhos? Os chocalhos fizeram parte da minha infância. O meu pai era pastor e, desde pequeno, habituei-me a ouvir esse som que permitia ao meu pai saber que as cabras ou as ovelhas estavam sossegadas, muitas vezes invisíveis aos olhos por estarem no meio do nevoeiro ou das giestas.

Ouvir o chocalho, ou até só olhar para ele, faz-me lembrar o homem integro que foi o meu pai. Um homem simples que teve que imigrar mas que se sentia realmente bem na sua serra pastoreando os seus animais. Nunca conheci ninguém que gostasse tanto de animais, mem ninguém de quem os animais gostassem tanto.

De alguma forma foi graças aos animais que o meu pai guardava que consegui estudar. Foi graças aos chocalhos que consegui comprar o carro onde o penduro e, por vezes, penso que não é o carro que tem um chocalho foi o chocalho que me permitiu ter um carro à sua volta.

Obrigado pai, por todas as coisas simples de que tanto gostavas. Obrigado por me mostrares que, numa serra, podemos ser felizes apenas ouvindo os chocalhos.

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